quinta-feira, 1 de julho de 2010

Comédias românticas


Alguém já reparou que todo filme de comédia romântica tem por obrigação constar em seu título o substantivo abstrato "amor"? Posso citar alguns para refrescar a memória como:
Jogos de Amor em Las Vegas, Simplesmente Amor, Abaixo o Amor, Embriagado de Amor, Novidades do Amor, Raio que o parta do amor (esse eu inventei). Mesmo que o título original não tenha nada haver com sua tradução o amor está lá. Então você me pergunta: Que mal há nisso? Não há mal nenhum quando no título não vem de brinde no pacote a picaretagem. Não entendeu? Explico. Geralmente, (tomara que a minha namorada não me leve a mal) homem não gosta de comédia romântica, seja lá por qual motivo for (mas quando gostam também não admitem). Os tradutores, espertos que são, tascam o bendito amor no título para atrair a mulherada, porque sabem que o filme é ruim. Suponhamos que está lá o casalzinho no final de semana pra pegar aquele cineminha bacana, e dentre todos os filmes os que mais chamam a atenção deles são: Idas e vindas do amor e Os Mercenários (que ainda não estreou), qual filme que vocês acham que o casal vai assistir? Dou-lhe uma, dou-lhe duas. É claro que é o filmezinho romântico gente, lógico. Porque quem manda na relação é a mulher (homens! aprendam isso de uma vez por todas)
Às vezes me surpreendo com alguns desses filmes, mas por via de regra a maioria é péssimo, quando melhor são ruim. E porque eu penso assim? me corrijam se eu estiver errado, mas a maioria é sobre um casal (lógico dãã) que no começo não se gostam, mas com o passar do tempo começam a se gostar, e quando a gente acha que a relação vai deslanchar acontece uma reviravolta para que o casal brigue, então o cara ou a mocinha tem que correr contra o tempo pra salvar a relação e reaver seu amado ou amada e terminam juntos felizes para sempre. E ai? inventei alguma coisa ou não é assim que acontece? Cadê a originalidade pessoal? Porque somos facilmente enganados por esse filmes que são lançados aos montes todo ano nos cinemas? Aí você me diz: mas são filmes bonitinhos, que falam de amor e deixa a gente feliz. Tudo bem, eu entendo que gosto e umbigo cada um tem o seu. Mas será que não cansa ver a mesma coisa o tempo todo? Será que é pedir demais nos apresentarem algo diferente, que não duvide da nossa capacidade intelectual e que tenha haver com o nosso cotidiano? Ou você é uma super-executiva que mora em uma das coberturas mais caras de Nova Yorque e se apaixona pelo seu novo colega de trabalho?
Mas por providência divina cai uma gota de orvalho em um incêndio, e somos presenteados por uma pérola da sétima arte chamada 500 dias com ela. O roteiro é trivial: jovem solitário se apaixona pela nova colega de trabalho e parte em busca de sua conquista. A diferença nesse caso é a forma de contar o "mais do mesmo". Pra começar o filme Inicia pelo fim, e sua trama se desenrola em flashbacks e flashforwards do personagem principal protagonizado pelo excelente Joseph Gordon-Levitt (para quem não lembra dele, é aquele menininho histérico do Jurassick Park).

De cara você já percebe que há algo diferente na narrativa, onde nas cenas as cores ou se opacam ou se intensificam de acordo com o humor do personagem, que no meio do filme ensaia até um musical a la Mary Poppins. A introdução da belíssima atriz Zooey Deschanel já quebra com todos os paradigmas e esterótipos da garota perfeita devido a sua beleza natural e não artificial, como vemos na maioria dos filmes do gênero. Destaque também para sua atuação, com um ar misterioso e olhar soturno que deixa qualquer marmanjo apaixonado, e também pela trilha sonora marcante escolhida a dedo que vão render alguns suspiros. Se alguém quer romance, nesse filme tem. Se alguém quer identificação com a vida a dois, de pessoas reais que batalham para pagar o aluguel e querem vencer na vida, também tem. Se alguém quer aprender com os conflitos do casal e o que fazer para solucioná-los, vejam só, estão presentes aqui também. E o melhor de tudo, é um filme inteligente, que deixa mensagens nas entrelinhas, mas também coloca em evidência os sentimentos e as relações humanas sem ofender nosso bom senso. E o final? o que dizer do final, caro leitor, com certeza é diferente de tudo o que você tem visto ultimamente. Alguns ja o definiram como não sendo um filme de amor, mas sobre o amor.
"500 dias com ela" corre um sério risco de se tornar um clássico contemporâneo, e não é exagero, não somente pelas indicações ao Globo de Ouro por melhor filme e melhor ator em comédia romântica, mas porque inova e muito em uma temática batida e dificil de não cair no clichê, que aliás é quase imperceptível. A obra é artísticamente sóbria e lida muito bem com a sensibilidade sem se tornar piegas, mérito para o diretor estreante Marc Webb. Acredito que em razão de sua qualidade se tornará referência a alguns diretores que respeitam seu público e não se preocupam com o quanto que a produção vai lhe render. Mas se mesmo assim você não gostou de 500 dias com ela e ainda prefere continuar a ser um caça-níquel ambulante, keep going, continue a assistir as mesmas historinhas que até uma criança de dois anos de idade sabe como vai começar e como vai acabar.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Cinema nacional


Que emocionante, minha primeira postagem e já detonando uma geração perdida. É um trabalho sujo, mas alguém tem que fazê-lo (frase montada é dose).
O cinema brasileiro sofre muito preconceito por parte do grande público, mas porque existe esse preconceito? Simples. A grande mídia (leia-se globo e afins) até um certo período de sua curta existência exibia programações, digamos, mais consistentes do que se vê hoje em dia. Atualmente, empurra para os seus telespectadores aquilo que é mais facilmente digerido. Se fôssemos entrar no mérito, teríamos que esmiuçar desde golpe militar até um sistema educacional mais eficaz, mas isso fica para uma futura postagem.
Então, você que conseguiu chegar até aqui deve estar se perguntando: que raios que tem haver cinema com televisão brasileira? Eu te respondo, meu caro amigo, tudo. Apesar de que a internet reina absoluta no quesito "entretenimento de escolha", mas há menos de 10 anos (isso, aqui no Brasil, lógico) a internet não era tão popular, e nem se falava de inclusão digital e o que sobrava? Domingão do Faustão, Domingo legal, Vídeo Show, novelas, daí ladeira a baixo. Então, foi se construindo no imaginário popular o que eu chamo de "cultura Sonrisal" (merchã gratuito), porque tudo aquilo que foi absorvido é facilmente esquecido. Àqueles que nunca viram um programa dos citados acima que atire a primeira pedra, porque naquela época, infelizmente, era o que sobrava quando não se tinha o que fazer, e a coisa está só piorando (ouvi alguém dizer BBB aí?). Então, aquele chato pergunta de novo: mas o que esses programas têm haver com o cinema nacional? Agora é que vem a jogada, não só esses programas têm haver, como sua existência contribui para o empobrecimento daquilo que deveria ser importante e de valor.
Essa Cultura Sonrisal impede as pessoas de se prenderem e se interessarem por conteúdos um pouco mais densos e complexos, porque estão condicionadas a lidar com uma mídia mais volátil, que não se questiona, e que não coloca o cérebro para funcionar, e isso envolve não só o cinema nacional, mas outros segmentos midiáticos.
A televisão brasileira tem enfrentado um sério declive na sua audiência devido ao maior número de pessoas quem têm acesso a internet. Mas será que isso é bom? Depende do seu ponto de vista. Por um lado é empolgante saber da queda dessa audiência que massifica, mas por outro a quantidade de programas apelativos que pipocam na ânsia de atrair o público é absurda. Então, as pessoas acessando a internet vai resolver? Vejamos dessa forma, aquelas mesmas pessoas que tinham o costume de assistir esses "dejetos cerebrais" podem não mais ligar sua televisão, mas acessam conteúdos que não contribuem para uma melhor formação crítica e de quebra não ajuda a mudar esse quadro. Como eu sei disso? Você já ouviu falar numa máxima que diz "o costume do cachimbo é a boca torta?" Amigo o estrago está feito. Sei que existe esperança para que ocorra uma mudança, que existem pessoas interessadas naquilo que realmente moldam um bom senso crítico, para que a mudança não seja só no que vai deixar de assistir ou acessar, mas em quem votar ou em ser um bom cidadão, mas somos poucos.
A minha intenção não é alardear, mas creio que a caixa de Pandora foi aberta.
Para validar o raciocínio, vamos citar um excelente filme do cinema nacional chamado "Estômago". Com certeza de dez pessoas uma já ouviu falar, e olha que estou sendo otimista. Mas, se eu perguntar quem ganhou o último BBB aposto que está na ponta da língua. Então, fica o questionamento: será que tenho que ver filme que ninguém ouve falar para melhorar a concepção do cinema nacional? Bom, seria um ótimo começo, porque você sairia de um limbo existencial para experimentar um mundo novo, mas para sair desse "estatu quo" a mudança teria que ser radical. Mas que mudança radical? Eu te digo, NÃO DAR MAIS AUDIÊNCIA PARA ESSE TIPO DE PROGRAMAÇÃO, porque quem financia essa m... é você mesmo (me desculpe, Capitão Nascimento). Transforme esse tempo perdido em algo produtivo como ler um livro (um bom livro, nada de saga Crepúsculo) plantar uma árvore, fazer qualquer coisa que o resultado final seja o crescimento de sua pessoa como ser humano. É difícil? É sim, mas nada que se tenha valor é fácil de ser conquistado, para que as futuras gerações compreendam a importância da auto-crítica e das mazelas que uma mídia somente interessada em encher seus bolsos de dinheiro comprometem ao alienar seus telespectadores.